Luciana Konradt

Lamentáveis e criminosas

Por Luciana Konradt
Jornalista, advogada e escritora

Uma das facetas lamentáveis (e criminosas) da ideologia de ódio semeada pelo país, nos últimos anos, é a reiteração dos crimes de perseguição, injúria e difamação contra juízes do STF, políticos e artistas, como, por exemplo, Gilberto Gil, agredido enquanto assistia a jogo da Copa do Mundo, no Catar. Não fossem pelos registros em vídeo e alto volume, dada a fúria verborrágica dos agressores, duvidaríamos de tamanha agressividade contra um cantor que, em suas canções, personifica a própria paz e cuja alma, por definição própria, comprovada pelo conjunto da obra, “cheira a talco”.

Lei aprovada no ano passado instituiu o crime de perseguição, ou “stalking”, definido, no Código Penal, como o ato de “perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. “Recentemente, o deputado federal, ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, outra vítima de agressão, ao lado da esposa e durante o café da manhã em um hotel da Bahia, utilizou-se do novo artigo legal para solicitar a investigação contra seu agressor que, além de perseguir o casal, com reiterados xingamentos, postou o vídeo do fato em suas redes sociais. Não é necessário ser um criminalista para perceber que, nesse caso, como em muitos semelhantes, a prova do crime está feita e amplamente registrada. Porque ao seu autor não basta o ataque. Faz-se, ainda, necessária a promoção do ato. O exibir-se, como alguém que, supostamente, defendeu seu mito e suas crenças.

Como justificar toda essa violência gratuita? Qual a motivação para semelhante ataque a quem, pacificamente, assiste a um espetáculo de futebol ou toma seu café da manhã? Em que tosca convicção de supremacia o agressor fundamenta seu pretenso direito de invadir a tranquilidade e a privacidade alheias? Seja qual for a causa para esse estado de espírito catártico e propagador do ódio, gestos dessa natureza, independentemente de ideologias ou convicções políticas, vão contra a ideia de civilização. Contra um princípio básico que aprendemos na primeira infância e consta de todos os diplomas legais: o respeito ao outro, à sua honra, intimidade e vida privada. São atos criminosos a exigirem imediata punição. E provas para a condenação dos culpados circulam por todos os lados, escancaradas nas mídias sociais.​

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